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Influência de Bolsonaro nas polícias é mais preocupante do que nas Forças Armadas, diz professor

Para Adriano de Freixo, a invasão do Congresso nos EUA por extremistas acendeu um alerta para o que pode ocorrer no Brasil
 
Mais do que a influência do presidente Jair Bolsonaro nas Forças Armadas, o que deve ser motivo de preocupação para a democracia brasileira é a ascendência do capitão sobre as polícias militares do País.
 
A avaliação é de Adriano de Freixo, professor do Departamento de Estudos Estratégicos e Relações Internacionais do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (Inest-UFF).
 
Recentemente, o especialista publicou um estudo, intitulado Os militares e o governo Bolsonaro, entre o anticomunismo e a busca pelo protagonismo, das Edições Zazie, em que usa o termo “bolsonarização” para explicar o fenômeno.
 
Em entrevista a CartaCapital, o professor aponta a tentativa de dar mais autonomia às polícias como consequência de demandas de setores das corporações que são alinhadas ao presidente.
 
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, o Congresso se prepara para votar dois projetos de lei orgânica das polícias civil e militar que restringem o poder de governadores sobre braços armados dos Estados e do Distrito Federal.
 
As propostas trazem mudanças na estrutura das polícias, como a criação da patente de general, hoje exclusiva das Forças Armadas, para PMs, e de um Conselho Nacional de Polícia Civil ligado à União.
 
“Aumentar o grau de autonomia das polícias militares, esvaziando o poder dos governadores, é complicado e resultado da demanda de setores que são identificados com o presidente. A bolsonarização da polícia é fator de preocupação maior do que nas Forças Armadas, porque essas últimas não são homogêneas. Dentro do Exército, a bolsonarização é maior do que na Marinha e Aeronáutica, que têm uma postura de maior distanciamento”, diz o professor.
 
Para ele, por enquanto, “ainda não se vê dentro das Forças Armadas a quebra de hierarquia por causa da bolsonarização”.
 
Na conversa, o professor ainda destaca que o apoio a Bolsonaro, junto a militares, é muito mais intenso nos estratos inferiores do que na oficialidade da ala superior.
 
Questionado sobre a possibilidade de ruptura democrática caso o presidente seja derrotado nas eleições nacionais de 2022, o professor lembra o que ocorreu recentemente nos Estados Unidos, quando extremistas apoiadores do presidente Donald Trump invadiu o Congresso norte-americano para tentar impedir a oficialização de Joe Biden como novo chefe do Executivo do país.
 
“O que aconteceu nos Estados Unidos acendeu um sinal amarelo para o Brasil pela própria reação de Bolsonaro”, afirma.
 
Leia a entrevista.
 
CartaCapital: A bolsonarização está mais presente na alta cúpula das Forças Armadas ou nos estratos inferiores?
 
Adriano de Freixo: Ela é mais intensa nos estratos inferiores, que historicamente são a base eleitoral do Bolsonaro, desde antes dele chegar à Presidência da República. Bolsonaro sempre foi um defensor das demandas desse segmento. A novidade é o apoio da oficialidade da ala superior, que historicamente foi mais refratária ao Bolsonaro e aderiu ao projeto bolsonarista em meados de 2015 e 2016.
 
CC: O início da bolsonarização da alta cúpula foi reflexo da Comissão da Verdade?
 
AF: Os trabalhos da Comissão se constituem em elementos de extrema importância, mas não é único. Nós tivemos uma série de insatisfações corporativas que começam a estourar durante do governo Dilma. Por exemplo, a partir do momento em que as Forças Armadas começam a atuar com maior frequência nas operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Algumas tentativas de mudanças, como critérios de progressão, também contribuíram. Essas insatisfações culminam no projeto bolsonarista.
 
Uma coisa que não pode ser deixada de lado é a questão ideológica. Setores expressivos das Forças Armadas compram um discurso anacrônico da Guerra Fria, que é o anticomunismo, que reapareceu com uma nova roupagem. O discurso agora tem marxismo cultural, pautas identitárias e questões de gênero. É daí que vem a aproximação do setor olavista do governo e várias das lideranças militares.
 
CC: Em caso de derrota de Bolsonaro em 2022, pode acontecer alguma tentativa de ruptura democrática?
 
AF: O que aconteceu nos Estados Unidos é um sinal amarelo para o Brasil pela própria reação de Bolsonaro, que relacionou a não existência do voto impresso a problemas com o voto. Um ponto é: se por um lado há uma bolsonarização dos estratos mais inferiores das Forças Armadas e parte do grupo de superiores, por outro há setores que demonstram preocupação, porque pode levar a uma divisão interna das Forças. Outra questão é: até que ponto as lideranças militares estariam dispostas a embarcar no bolsonarismo e pôr em xeque a própria institucionalidade da corporação? Ainda não se vê dentro das Forças Armadas a quebra de hierarquia por causa da bolsonarização.
 
O que preocupa são as forças auxiliares, as policias militares e os bombeiros militares. A partir de movimentos organizados desses grupos, nós vemos lideranças identificadas com o bolsonarismo. Isso não quer dizer que toda a corporação policial seja bolsonarista, mas é um fenômeno existente. Aumentar o grau de autonomia das polícias militare,s esvaziando o poder dos governadores, é complicado e é resultado da demanda de setores das polícias militares que são identificadas com o bolsonarismo.
 
A bolsonarização da polícia é fator de preocupação maior do que a bolsonarização das Forças Armadas, porque essas últimas não são homogêneas. Dentro do Exército, a bolsonarização é maior do que na Marinha e Aeronáutica, que têm uma postura de maior distanciamento.
 
CC: Há riscos para a democracia?
 
AF: O Bolsonaro e o seu grupo mais próximo têm feito constantes referências à possibilidade de autogolpe. O que aconteceu nos Estados Unidos, como eu disse, acendeu um sinal amarelo, porque o presidente daqui pode tentar algo caso ele não vença a eleição.
 
Nos EUA, uma democracia consolidada, conseguiram impediram o golpe. A pergunta é: em um País periférico como o Brasil, com uma forte tradição de intervenção das Forças Armadas e instituições desgastadas, será que haveria condições de responder essas provocações? Há motivos para preocupação, sim.
 

Fonte: Carta Capital

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