O “Dia B” - defesa dos trabalhadores ou do governo?
Os Beatles têm o Álbum Branco. O Brasil terá, a partir de hoje, o Dia Branco. Onze de Julho vai entrar para a história como o dia em que os sindicatos do país organizaram um levante para reabilitar o governo, combalido por quinze dias de manifestações populares. Impedidos de apropriar-se do movimento popular, partidos políticos e centrais sindicais resolveram deflagrar um grande ato em defesa dos direitos dos trabalhadores.
Dos trabalhadores? Há controvérsia...
As Centrais Sindicais organizadoras do movimento elaboraram uma pauta única com os seguintes itens: redução da Jornada de Trabalho para 40h semanais, sem redução de salários; contra o PL 4330, sobre Terceirização; fim do fator previdenciário; 10% do PIB para a Educação; 10% do Orçamento da União para a Saúde; Transporte público e de qualidade; Valorização das Aposentadorias; Reforma Agrária; Suspensão dos Leilões de Petróleo. Alguns sindicatos de servidores públicos aderiram à pauta proposta pelas Centrais.
A convergência de propostas, entretanto, termina aí. A CUT não conseguiu a adesão das demais Centrais ao plebiscito proposto pelo governo e levará a proposta às ruas isoladamente. O líder do MST, João Pedro Stedile, vai mais longe e defende abertamente o governo: “A presidenta Dilma ficou motivada com a voz das ruas e promoveu esse debate. Porém, sua base política e parlamentar começou a boicotá-la, colocando todos os obstáculos possíveis. Por isso, essa disputa tem de ser resolvida nas ruas. A reação ao plebiscito e à assembléia constituinte demonstra a resistência para fazer mudanças e reforça a necessidade de levar a cabo essas propostas”.
A Força Sindical e a CSP-Conlutas defendem o combate à inflação e mudanças na equipe econômica. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical foi enfático: “Vamos pedir a cabeça do ministro Guido Mantega. Queremos mudança na política econômica e redução na inflação, que corrói o salário do trabalhador". Já o coordenador da CSP-Conlutas, José Maria de Almeida, entende que o problema é mais abrangente: "O problema não é o ministro. É o governo que privilegia o interesse dos bancos, das empresas, do agronegócio, e não o dos trabalhadores".
O movimento deste dia 11/7 mais parece uma disputa entre direções sindicais do que uma autêntica manifestação de trabalhadores. Em entrevista ao portal g1.globo.com, o cientista político Milton Lahuerta, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), faz sua análise do movimento: “Não há nenhuma perspectiva ideológica ou política para a construção de uma agenda propositiva", diz. "Além disso, os sindicatos só abandonariam a base aliada em dois casos: ou se fossem acolhidos pela oposição, o que é improvável, ou se a situação econômica do país se degradasse a tal ponto que as lideranças tivessem de se opor ao governo para manter sua legitimidade". Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB), acredita que a manifestação é resultado do ‘oportunismo’ da CUT. "A CUT é visivelmente controlada pelo PT, que perdeu credibilidade junto à sociedade. O protesto nada mais é do que uma reafirmação de importância do sindicato, que teme pela sua própria sobrevivência".
Por Vanderly Campos de Oliveira
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Paulo Diniz d'Avila
12 de julho de 2013 - Joinville/SC
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